Cabo Verde/Presidente da República e antigos chefes de Estado defendem “comemoração condigna” do centenário de Amílcar Cabral
(ANG) – O Presidente da República, José Maria Neves, e os antigos chefes de Estado Pedro Pires e Jorge Carlos Fonseca pediram, na cidade da Praia, uma “comemoração condigna” do centenário do nascimento de Amílcar Cabral.
Os três defenderam esta posição, na noite de quarta-feira, 08, quando solicitados pela plateia, durante o “Presid Talk- Inovação Política em Cabo Verde” para comentar sobre o chumbo do projeto de resolução do centenário Amílcar Cabral, no parlamento, tendo atribuído tal reprovação ao “excesso de partidarização” no País.
Para Jorge Carlos Fonseca, a independência não se discute, enfatizando que a “partidarização do espaço político excessivo” é um fenómeno que condiciona o estado da democracia em Cabo Verde.
“Tenho a percepção de que Cabo Verde, do ponto de vista daquilo que nós chamamos as representações coletivas, está dividido ao meio, praticamente. Essa divisão tem razão de ser, há a ideia de que a maioria dos simpatizantes do PAICV vê o PAICV a referência maior decisiva de independência com Cabral. E os simpatizantes do MpD, na sua representação mental e coletiva, veem a democracia como conquista do MpD”, concretizou
Este facto, assinalou, ainda divide o País, pelo que “favoreceu e potenciou” o chumbo da resolução.
No entanto, referiu que desconhece a resolução, tendo ressaltado que o centenário de Amílcar Cabral deve ser comemorado “com dignidade” e que de uma forma ou de outra a efeméride será celebrada.
Brevemente, anunciou Jorge Carlos Fonseca, irá lançar em Cabo Verde uma instituição que terá denominação provável de iniciativa liberdade e democracia, que se vai dedicar à promoção da cultura da liberdade, da democracia e da constituição em Cabo Verde, para que isso seja um ponto de partida para um “desenvolvimento sustentável, justo e igualitário” para Cabo Verde.
“Não estaria muito de acordo relativamente a esta separação entre o povo da independência e da democracia”, discordou, por outro lado, José Maria Neves.
“Eu sou do PAICV, exerci o cargo de primeiro-ministro em democracia durante 15 anos, eu acho que é uma narrativa da elite política cabo-verdiana, e não é a representação do cidadão ou do povo cabo-verdiano. Há um só Cabo Verde que lutou pela independência e pela construção da democracia, ganhos de todos os cabo-verdianos”, disse, vincando que se assiste a uma “disputa de protagonismo” entre estes dois momentos históricos para Cabo Verde.
“Acho que esta questão da resolução tem a ver com a excessiva partidarização em Cabo Verde, pode haver estes problemas de natureza jurídica que o presidente Jorge Carlos Fonseca se refere, mas já aprovamos outra resoluções com o mesmo conteúdo (…) Mas acho que depois dessa discussão, haverá um espaço para um debate político e para se comemorar condignamente o centenário do nascimento de Amílcar Cabra|”, declarou José Maria Nves.
Por fim, Pedro Pires, por seu lado, enquanto presidente da Fundação Amílcar Cabral, avançou que há que se discutir mais sobre a independência de Cabo Verde, argumentando que há “muita desinformação”, bem como gente que “não pode ouvir falar dos movimentos da libertação”.
Sobre a não aprovação da resolução, explicou que quem está a trabalhar no centenário de Amílcar Cabral há mais de dois anos é a própria Fundação, que vem desempenhado um “papel importante” neste aspecto, levando a população a refletir mais sobre a personalidade de Cabral.
Pedro Pires sustentou que a proposta levada à Assembleia Nacional não é uma iniciativa do PAICV e sim da fundação, que consultou todos os líderes parlamentares e o presidente da Assembleia Nacional, e o grupo parlamentar PAICV foi escolhido para levar a proposta.
“A posição da fundação é que não devemos entrar em disputa e que devemos fazer tudo para que essa celebração seja mais abrangente possível e que não seja motivo de conflito, portanto vamos continuar a agir neste sentido(…) o Estado de Cabo Verde só ganha com esta celebração adequada do centenário Amílcar Cabral, porque a ideia é fazer um simpósio internacional com participação das pessoas, de estudiosos (…)”, considerou Pedro Pires.
ANG/Inforpress