Quénia/Novo dia de mobilização anti-governamental sob alta tensão no Quénia
(ANG) – A polícia queniana lançou gás lacrimogéneo e disparou com balas de borracha para dispersar os pequenos grupos de manifestantes que desfilaram nesta quinta-feira em Nairobi, um dia depois de o Presidente queniano anunciar o abandono do seu projecto de aumento dos impostos, na sequência da sangrenta repressão das acções de protesto na passada terça-feira.
Nairobi foi o epicentro da mobilização desta quinta-feira, mas grupos de manifestantes também se reuniram em Mombaça, no leste e em Kisumu no oeste, dois feudos da oposição. De acordo com jornalistas presentes no terreno, tumultos eclodiram na capital, ouviram-se apelos à demissão do Presidente e houve pelo menos sete detenções.
Também nesta quinta-feira, agentes da polícia com equipamento antimotim bloquearam os acessos para o palácio presidencial e para o Parlamento. Isto depois depois das cenas de caos da passada terça-feira na capital, em que manifestantes tentaram tomar de assalto do Parlamento e foram incendiados edifícios públicos.
Ao todo, nos protestos de terça-feira, 22 pessoas foram mortas, 19 das quais em Nairobi, e mais de 300 ficaram feridas, de acordo com o órgão queniano de protecção dos Direitos Humanos. Uma situação cujas responsabilidades, o porta-voz do secretário-geral da ONU reclamou ontem que sejam “claramente” estabelecidas.
Na sequência destes acontecimentos, depois de ter prometido na terça-feira uma repressão firme da “violência e da anarquia”, o Presidente queniano anunciou ontem o abandono total da reforma fiscal através da qual dizia pretender estancar o pesado endividamento do país.
Este anúncio contudo foi acolhido com cepticismo pelo campo da contestação que passou a denunciar não só a reforma fiscal como a própria política geral do Presidente William Ruto, eleito em 2022 com a promessa de lutar mais eficazmente contra as desigualdades sociais.
Resta que agora, o executivo queniano continua a debater-se com o desafio da dívida pública do país que ascende a cerca de 71 mil milhões de euros, ou seja, cerca de 70% do seu Produto Interno Bruto. O orçamento de 2024-25 previa despesas de 29 mil milhões de euros, um recorde.ANG/RFI