Suíça/Anistia Internacional acusa Israel de genocídio em Gaza; país rejeita conclusões de relatório
(ANG) – A ONG Anistia Internacional acusa Israel de “cometer genocídio” contra os palestinos na Faixa de Gaza desde o início da guerra, em um relatório publicado nesta quinta-feira (5). A ONG pede à comunidade internacional que não seja “cúmplice”.
“Israel tratou os palestinos de Gaza como um grupo de sub-humanos, que não merece dignidade ou o devido respeito previstos pelos direitos humanos, demonstrando sua intenção de destruí-los fisicamente”, disse a secretária-geral da organização, Agnès Callamard.
O relatório de 300 páginas é resultado de 10 meses de investigação em Gaza e inclui também a análise dos discursos das autoridades israelenses. O documento demonstra que Israel está cometendo genocídio contra os palestinos. A ONG se baseia em critérios definidos pela Convenção das Nações Unidas sobre Genocídio.
“O que estamos dizendo é que o crime de genocídio não é mais um risco provável, mas uma realidade constante”, disse Tchérina Jerolon, chefe do programa de conflitos, migração e justiça da Anistia Internacional, à RFI.
“Nossa investigação mostra que as autoridades israelenses cometeram três dos cinco atos proibidos pela Convenção do Genocídio: assassinato, lesões corporais ou mentais graves e criação de condições que levariam a uma morte lenta e caldulada do povo de Gaza.”
No relatório, a Anistia Internacional aponta para “ataques deliberados contra civis e infraestrutura civil e uso de armas explosivas em áreas densamente povoadas”, além da obstrução da entrega de ajuda humanitária no território e o deslocamento forçado de 90% de sua população.
Desde o início da guerra que teve início em 7 de outubro,44.532 pessoas morreram em Gaza a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do Hamas para Gaza, considerados confiáveis pela ONU.
Segundo a ONU, em outubro de 2023, no início no conflito, Israel decretou um “cerco completo” ao território, que tem uma população de quase 2,4 milhões de habitantes, com o slogan “Sem eletricidade, sem água, sem gás”.
O Exército israelense agora está impondo severas restrições à entrega de ajuda e os palestinos estão sujeitos a “desnutrição, fome e doenças”, de acordo com a Anistia Internacional.
Israel rejeita as acusações de “genocídio” e acusa o Hamas de usar civis como “escudos humanos”. Desde o ataque do Hamas ao sul do país, que desencadeou a guerra, Israel tem reafirmado seu direito de se defender contra o movimento islâmico palestino.
“Mas sejamos claros: os objetivos militares não são incompatíveis com a intenção genocida”, disse a secretária-geral da Anistia Internacional, em entrevista coletiva em Haia, Holanda.
O relatório da ONG cita o exemplo de 15 ataques aéreos realizados entre 7 de outubro de 2023 e 20 de abril de 2024, que mataram 334 civis, incluindo 141 crianças. A organização “não encontrou provas de que os ataques tenham sido dirigidos a alvos militares”.
O Ministério das Relações Exteriores de Israel rejeitou o documento, que qualificou de “fabricado”.
“A ‘deplorável’ e ‘fanática’ organização Anistia Internacional mais uma vez produziu um relatório fabricado, totalmente falso e baseado em mentiras”, disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel em um comunicado.
“O massacre genocida de 7 de outubro de 2023 foi realizado pela organização terrorista Hamas contra cidadãos israelenses. Desde então, eles têm sido submetidos a ataques diários em sete frentes diferentes. Israel se defende contra esses ataques agindo em total conformidade com o direito internacional”, diz o comunicado.
O documento também menciona apelos de autoridades e soldados israelenses para a “aniquilação, destruição, queima ou ‘desaparecimento’ de Gaza”. Essas palavras sublinham “não apenas a impunidade sistêmica, mas também a criação de um ambiente que incentive tal comportamento”, frisa o documento.
De acordo com o relatório, nenhuma guerra recente matou tantas crianças em tão pouco tempo. Agora “é impossível para a comunidade internacional fechar os olhos”, diz Tchérina Jerolon. “Precisamos de medidas concretas para colocar um fim ao genocídio que está em curso. Entre essas medidas está a necessidade de um embargo total às armas que são transmitidas a Israel.”
“Os governos devem parar de fingir que não têm poder para acabar com a ocupação, o apartheid e o genocídio em Gaza”, disse Callamard. “Os Estados que enviam armas para Israel violam suas obrigações de prevenir o genocídio e correm o risco de se tornarem cúmplices dele”, acusou.
A Anistia Internacional também pede a entrega de Benyamin Netanyahu ao Tribunal Penal Internacional(TPI) o mais rápido possível. A ONG também anunciou que publicaria um relatório sobre os crimes cometidos pelo Hamas durante o ataque de 7 de outubro de 2023.
A organização ainda critica em seu relatório “a incapacidade da comunidade internacional” em achar uma solução para o conflito. “O fracasso vergonhoso da comunidade internacional, por mais de um ano, em pressionar Israel a parar suas atrocidades em Gaza, primeiro atrasando os apelos por um cessar-fogo e depois continuando as transferências de armas, é e continuará sendo uma mancha em nossa consciência coletiva”, ressalta a secretaria-geral da ONG.
Das 251 pessoas sequestradas em território israelense, 97 ainda são mantidas em cativeiro em Gaza, 35 das quais foram declaradas mortas pelo exército israelense. ANG/RFI