Tunísia/ Reeleição de Kais Saied marcada por abstenção recorde
(ANG) – O Presidente cessante Kais Saied, acusado pela sociedade civil de “deriva autoritária, foi reeleito com 90,7% dos votos na Tunísia, numa eleição que fica marcada por uma taxa de abstenção recorde.
A taxa de participação situou-se nos 28,8%, a mais baixa desde a chegada da democracia, em 2011, ao país. De acordo com o especialista da ONG International Crisis Group, Michael Ayari, a vitória de Kais Saed era previsível, tendo em que conta que, das 17 candidaturas, apenas dois concorrentes foram autorizados a apresentar-se.
Kais Saed venceu confortavelmente o industrial liberal Ayachi Zammel, que obteve 6,9% dos votos, e o antigo deputado pan-árabe de esquerda Zouhair Maghzaoui, que ficou em último lugar com 3,9%.
O discurso anti-sistema e as promessas de reformas radicais continuam a atrair um grande segmento da população, apesar das crescentes preocupações com o estado da democracia tunisina.
O país, considerado um dos poucos exemplos de sucesso democrático após o movimento da “Primavera Árabe”, em 2011, sofreu durante os últimos cinco anos um retrocesso nos direitos e liberdades. Segundo a organização Human Rights Watch, há actualmente 170 pessoas detidas na Tunísia por razões políticas.
Muitos críticos atribuem este retrocesso ao Presidente Kais Saed que já chegou a ser comparado com Zine el Abidine ben Ali, que governou o país entre 1987 e 2011.
Desde que chegou ao poder, Kaïs Saïed, antigo professor de direito constitucional, transformou radicalmente o cenário político tunisino, com a suspensão do Parlamento, demissão do Primeiro-Ministro, governação por decretos.
Em declarações ao canal de televisão France 24, Vincent Geisser, especialista no Magreb, considera que o Presidente tunisino deverá continuar o projecto de desmantelamento das instituições formadas após a queda de Ben Ali em 2011, acrescentando que o Kaïs Saïed fará tudo para se manter no poder.
“O objectivo de Kais Saïed é estabelecer uma chamada ‘democracia de proximidade’ com assembleias regionais e um sistema de patrocínio extremamente complexo para ser candidato numa eleição. Ele defende um sistema que ligue directamente a aldeia a Cartago [sede da presidência, nota do editor], sem intermediários”, explicou Vincent Geisser. ANG/RFI