França/Imprensa critica ‘aposta no caos’ feita por Marine Le Pen ao derrubar governo
(ANG) – Os jornais franceses repercutem nesta quinta-feira (5) a queda do governo do primeiro-ministro Michel Barnier, destituído por uma moção de censura aprovada quarta-feira por ampla maioria das bancadas de esquerda, extrema direita e algumas siglas independentes na Assembleia de Deputados.
A imprensa critica a escolha da líder de extrema direita, Marine Le Pen, ao apoiar a moção de censura, acreditando que desta forma terá mais poder no novo governo.
O diário econômico Les Echos vê nesta queda uma “aliança de extremos”, que abre um período de forte incerteza política. Hoje à noite, o presidente Emmanuel Macron fará um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV e, na avaliação do Les Echos, deverá nomear rapidamente um novo primeiro-ministro, o que não mudará a realidade: a falta de maioria parlamentar para apoiar os projetos do poder executivo. Um pacto para ampliar a base governista torna-se absolutamente necessário.
Todos os jornais cogitam nomes que circulam para o cargo de chefe de governo e dois ou três aparecem no topo da lista: Sébastien Lécornu, político do partido de Macron e que ocupava o cargo de ministro da Defesa até a destituição; François Bayrou, líder do MoDEM, partido de centro da base do governo; e o socialista Bernard Cazeneuve, que já dirigiu o governo durante o mandato de François Hollande (2012-2017).
O Libération sublinha que a França não passava por uma crise semelhante desde 1962, quando o Parlamento da época derrubou o então primeiro-ministro Georges Pompidou. O jornal progressista considera que Macron “precisa encontrar, o mais rapidamente possível, uma resposta a essa grave crise política”.
A votação demonstrou que a líder da extrema direita, Marine Le Pen, à frente de uma bancada de 143 deputados, tem poder para desestabilizar qualquer governo. Mas em seu editorial, o Libération questiona se ela não teria cometido o erro fatal que enterra seus planos de chegar um dia à presidência.
“Enfraquecida pelo risco de inelegibilidade que paira sobre ela (em um processo judicial por desvio de verbas do Parlamento Europeu), Marine Le Pen apostou no caos”, aponta o editorial. “Os eleitores do partido Reunião Nacional (RN) exigiam isso, mas a base de Marine Le Pen não será suficiente para ela chegar ao Palácio do Eliseu”, continua o texto.
“A líder de extrema direita, que passou os últimos anos tentando construir uma imagem de dirigente respeitável, voltou a demonstrar que é uma política antissistema. Ela empurrou o país para um período de incertezas políticas, econômicas e financeiras, e corre o risco de tornar muito impopular”, conclui o editorial do Libération.
Segundo o Le Monde, Emmanuel Macron, que havia sido isolado pela decisão unanimemente criticada de dissolver a Assembleia Nacional em junho, volta a ser o centro do poder, uma vez que cabe ao presidente da República nomear um novo primeiro-ministro.
Há 15 dias, Macron já antecipava a queda de Barnier e nos últimos dias, em viagem à Arábia Saudita, ele parecia estar tranquilo sobre a decisão a tomar. Políticos da base governista manifestam que o melhor caminho a seguir é atrair o Partido Socialista para o governo, como se esta fosse a única forma de enfraquecer o poder de Marine Le Pen.
Para o Le Monde, “Macron não tem o direito de errar”. ANG/RFI