Síria/ Curdos apelam ao fim dos combates e estendem a mão ao novo poder
(ANG) – Os curdos sírios, que controlam uma parte do nordeste do país, apelaram esta segunda-feira ao fim dos combates em território sírio e estenderam a mão ao novo poder, dominado por islamitas, em Damasco.
Num comunicado, lido à imprensa, em Raqqa, pelo chefe do conselho executivo, Hussein Othman, a administração autónoma curda pediu “o fim das operações militares em todo o território sírio para iniciar um diálogo nacional”.
A iniciativa surge mais de uma semana após uma coligação liderada pelo grupo radical islamita Hayat Tahrir al-Sham (HTS) ter assumido o poder em Damasco, a 08 de Dezembro, após uma ofensiva fulgurante lançada a partir do norte da Síria.
Simultaneamente, grupos armados pró-turcos lançaram uma ofensiva contra as forças lideradas pelos curdos no nordeste do país.
A Turquia, um dos principais intervenientes no conflito sírio e apoio das novas autoridades, foi um dos primeiros países a reabrir, no sábado 14 de Dezembro, a sua embaixada em Damasco.
Os curdos sírios são o principal componente das Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos Estados Unidos, que foram a linha da frente no combate contra o grupo jihadista Estado Islâmico. A administração autónoma curda afirmou que “a política de exclusão e marginalização, que destruiu a Síria, deve terminar” e apelou, ainda, a “uma reunião urgente em Damasco com a participação das forças políticas nacionais para unificar os pontos de vista sobre o período de transição”.
Em declarações à agência Lusa, o jovem futebolista sírio Ali Hasan, a residir em Portugal, está “muito feliz” pela queda do regime de Bashar al-Assad, mas aguarda por estabilidade.
Os meus pais ainda sentem um bocado de desconfiança, porque não sabemos quando é que o presidente [Bashar al-Assad] pode voltar, porque se ele voltar, as coisas vão piorar.
Os meus pais estão muito contentes, estão sempre a ligar para os meus familiares. Os meus avós e as minhas tias estão ainda morando na Síria.
Eu e a minha família tivemos que fugir. Sou de uma etnia de curdos. Os curdos normalmente não são muito bem-vindos em países à volta da Síria. A minha família teve que improvisar e tive que fugir.
Ainda tivemos uma conversa no fim-de-semana e os meus pais disseram: Olha, temos que preparar as malas, vamos voltar para a Síria! Mas eles também adoram cá estar [em Portugal].
Espero que, no futuro, a Síria se recupere. Espero que a minha família consiga sobreviver a este caos todo. Quero muito visitar a minha terra, a minha cidade natal. Já não estou lá há mais de 10 anos.
Ali Hasan, de 18 anos, chegou a Portugal em 2016, depois de três anos refugiado na Turquia e um na Grécia. As únicas memórias que tem da Síria são as dos seus familiares, curdos, etnia perseguida por Bashar al-Assad e também pelos regimes vizinhos da Turquia, Irão e Iraque.
Em Portugal, Ali Hasan e a família foram acolhidos em Guimarães. O actual atleta do União Desportiva de Polvoreira, dos distritais de Braga.ANG/RFI