Luta/”Nestes Jogos Olímpicos poderá acontecer algo extraordinário” para a Guiné-Bissau
(ANG) – A luta é a grande esperança da Guiné-Bissau para uma medalha nos Jogos Olímpicos de Paris, numa altura que o país está a formar campeões africanos e está a promover um programa de recrutamento de novos lutadores.
Na capital francesa, o comité guineense procura agora apoios para continuar a formar atletas não só na luta, mas noutros desportos olímpicos.
Com mais atletas do que em Tóquio, a equipa da Guiné-Bissau é composta por seis elementos que vão actuar em cinco modalidades diferentes chegou a Paris com a possbilidade de, pela primeira vez, ter uma medalha olímpica. A grande esperança é na modalidade de luta.
Esta é uma ambição que o Sérgio Mané, presidente do Comité Olímpico da Guiné-Bissau não escondeu em entrevista à RFI, dizendo mesmo que tudo é possível para os guineenses na capital francesa.
A Guiné-Bissau sonha com uma medalha nestes Jogos Olímpicos?
Não temos a tradição da medalha olímpica, mas tudo indica que nestes Jogos poderá acontecer algo extraordinário. Temos dois atletas de luta que fizeram uma preparação extraordinária, foram campeões africanos e revalidaram o título que dá direito a participar nos Jogos. Quer dizer que se qualificaram para os jogos através de duas provas seguidas e conseguiram revelar grandes qualidades nesta base. Podemos ter esperança porque tanto um como outro, em termos de ranking, estão bem posicionados. O Diamantino Fafé, por exemplo, é um atleta bolseiro olímpico que já esteve nos Jogos de Tóquio e desta vez voltou a qualificar-se. Está bem posicionado em termos de ranking e está no 16.º lugar. Sabemos que é uma é uma tarefa difícil, mas tudo está em aberto. O Bacar Ndum, na categoria de 74 kg está no sexto lugar do ranking e é um o atleta que ao longo da sua participação em diferentes competições, sempre trouxe medalhas para o país. E nesta base temos esperança. Sabemos que não é uma tarefa fácil, mas também não é impossível. Daí que continuamos a acreditar que poderá acontecer algo extraordinário.
E, neste caso, no caso da luta, ao contrário de outras modalidades, realmente é possível, porque basta que, por exemplo, do outro lado, o outro atleta tenha alguma desconcentração e os vossos atletas encontram uma maneira de conseguir penetrar na cabeça do adversário e podem ganhar.
Perfeitamente perfeitamente, porque no desporto de combate ali existe precisamente aquelas fragilidades. Se falhar na aplicação de uma técnica, o adversário pode aproveitar e fazer pontos que lhe dá a oportunidade de ganhar a competição.
Os atletas já estão aqui há alguns dias. O que é que eles estão a achar das condições de treino, das condições de alojamento na Aldeia Olímpica?
Até aqui está tudo tranquilo. Não há queixa. Estão bem e estamos a gostar.
Quando é que os atletas guineenses vão entrar em acção?
A partir do dia 01 de Agosto teremos natação, depois no dia 02 teremos judo, com o nosso atleta Bubacar Mané. Vamos ter o Seco Camará no atletismo no dia 03. Já o Diamantino Fafé começa na luta dia no dia oito e o Baca também na luta no dia 10. O Paicou no Taekwondo começa no dia 10.
E tendo em conta esta possibilidade de se chegar a medalhas, como é que os guineenses na Guiné-Bissau estão a acompanhar este jogos?
Há muita expectativa à volta dos atletas porque na verdade fizeram uma boa campanha. Nós sabemos que eles costumam brindar-nos com os títulos africanos. O desejo de todos os guineenses é ver o nosso atleta no pódio. Então, à volta disto, toda a gente está com esperança e vamos lá ver se conseguimos desta vez.
E esta expetativa é também uma possibilidade de desenvolver e trazer mais pessoas para o desporto, mais financiamento, por exemplo, mais financiamento internacional, mais ajuda ao desenvolvimento para o desporto na Guiné-Bissau?
Com certeza. Nos jogos anteriores tínhamos um menor número de atletas e nesses jogos aumentámos, o que significa que isso vai-nos permitir angariar meios e mobilizar recursos para pôr à disposição dos nossos atletas para poderem subir mais em termos de qualidade, em termos de performance.
Na equipa da Guiné-Bissau temos seis atletas e são todos homens. O que é que aconteceu na parte das mulheres? É uma preocupação sua trazer mais mulheres e mais meninas para o desporto na Guiné-Bissau?
Exactamente. Nós temos praticantes femininas, só que, lamentavelmente, ainda não estão este nível. Tivemos um caso de uma menina que esteve em Marrocos, uma bolsa financiada pelo Comité Olímpico e ela conseguiu medalha a nível do continente. Só que não progrediu mais. Isto também tem a ver com a parte familiar, não é? Já tinha um filho menor e certamente deve ser a causa que acabou por contribuir negativamente. Tinha que juntar-se ao filho e acabou por desistir. Estou a falar da luta, mas já tivemos casos da nossa atleta campeã africana de judo, a Taciana, que também deixou e desta vez só tivemos rapazes, mas nos Jogos anteriores ainda tivemos menina.
Há também uma questão então de formação civica e informação para as famílias da importância de as mulheres participarem no mundo do desporto?
É também uma questão de oportunidade. Eu considero isso a oportunidade, porque nem sempre todos têm a mesma oportunidade e nós trabalhamos nessa visão. Procurar sempre ter o equilíbrio de género para fazer com que as meninas possam também aproveitar as oportunidades que nós oferecemos para poderem desenvolver os seus talentos.
Está aqui então, também não só para acompanhar a equipa olímpica, claro, mas também para ter vários encontros, para encontrar-se imagino aos mais altos níveis, incluindo com o Comité Olímpico Internacional. Que tipo de encontros é que vai ter e o que é que espera levar depois para a Guiné-Bissau?
Nos Jogos Olímpicos acabamos por fazer diplomacia desportiva, já que estão aqui 206 países e dentro desses seis países, independentemente da rotina que acabamos por ter, vamos tendo já alguns encontros. Mas também já trazemos alguma agenda. Temos a reunião, por exemplo, a nível do continente, temos a reunião com a Sociedade Olímpica, temos a reunião com a francofonia, portanto, temos uma agenda super apertada. Mas tudo isto é para tirar proveito da nossa participação, da nossa presença e tentar levar esses ganhos para o país.
E o que é que vi nos próximos anos para os atletas olímpicos e os atletas em geral na Guiné-Bissau? Que modalidades e que se vê a desenvolver? Parece que a luta realmente está a atrair muita gente. Mas que outras modalidades? Por exemplo, modalidades náuticas, já que a própria Guiné-Bissau tem condições extraordinárias para este tipo de modalidades? Quais é que são as vossas apostas?
Já temos um atleta que está a progredir na natação. Esse jovem já beneficiou de uma bolsa. Devia ir para Hungria, mas já por causa do número de candidatos, vai para Singapura. Portanto, isto certamente vai criar uma grande expectativa e eu tenho plena certeza estando ali em termos de resultados, certamente vai surpreender porque é um jovem com qualidades, com uma progressão que encoraja tudo. Então também há outras modalidades, como o caso de luta. Estamos a fazer um investimento porque ali temos um potencial. Temos já um projecto de captação de talentos que está em curso e provavelmente vamos ter mais número de atletas a representar o país e certamente o número de medalhas vão aumentar, não é? Está tudo em aberto.ANG/RFI