França/OCDE alerta contra redução das despesas dos países com saúde
(ANG) – A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) alertou hoje contra a redução das despesas dos países em saúde, numa altura em que as populações ainda não recuperaram totalmente da pandemia de covid-19, noticiou o site Notícias ao Minuto.
“Os sistemas de saúde estão sob pressão financeira”, num “clima económico difícil, com prioridades concorrentes que condicionam os fundos públicos disponíveis”, alerta hoje a OCDE no relatório “Saúde em relance 2023”, que junta indicadores dos 38 países que a compõem.
Em 2019, antes da pandemia, os países da OCDE gastaram, em média, 8,8% do PIB em cuidados de saúde, um valor estável durante anos, que subiu para 9,7% para enfrentar a covid-19 e que agora baixou para 9,2%.
Ora, para a OCDE, esta redução é um risco para a estabilidade do sector em muitos países, que têm mais casos de doença mental — mais 20% de casos de depressão em relação ao período pré-pandémico – e uma população mais fragilizada e envelhecida.
A isso soma-se o facto de uma “inflação elevada ter reduzido recentemente os salários do sector da saúde em alguns países, tornando mais difícil atrair e manter os profissionais”, refere a OCDE – que incluiu Portugal entre os países que registaram “salários reais estagnados ou em declínio” -, num contexto em que os “principais indicadores de saúde da população mostram que as sociedades ainda não recuperaram totalmente da pandemia, com muitas pessoas ainda a debaterem-se mental e fisicamente”.
Os problemas económicos e as limitações ao acesso dos serviços públicos estão a tornar “os cuidados de saúde menos acessíveis” e as “pessoas com menos recursos têm, em média, três vezes mais probabilidades do que os indivíduos com mais rendimentos de adiar ou não procurar cuidados de saúde”.
Apesar disso, a pandemia trouxe melhorias na relação com os utentes, como a “prescrição segura nos cuidados primários”, com “reduções no volume médio de antibióticos, opiáceos e prescrições de longo prazo de anticoagulantes”.
Os internamentos hospitalares evitáveis também diminuíram, mas 57% dos médicos e enfermeiros hospitalares consideram que “os níveis de pessoal e o ritmo de trabalho não são seguros”.
A esperança de vida diminuiu 0,7 anos em média nos países da OCDE entre 2019 e 2021. “Ataques cardíacos, acidentes vasculares cerebrais e outras doenças circulatórias causaram mais de uma em cada quatro mortes; uma em cada cinco mortes deveu-se a cancro, e a covid-19 causou 7% de todas as mortes em 2021”, pode ler-se no relatório.
Segundo a OCDE, “quase um terço de todas as mortes poderiam ter sido evitadas através de intervenções de prevenção e de cuidados de saúde mais eficazes e atempadas”, em sociedades onde as disparidades socioeconómicas são também sentidas: quase metade das pessoas com menos rendimentos tem doenças crónicas.
“Os estilos de vida pouco saudáveis e os ambientes degradados provocam a morte prematura de milhões de pessoas”, com o “tabagismo, o consumo nocivo de álcool, a inatividade física e a obesidade na origem de muitas doenças crónicas”, refere a OCDE.
As taxas de obesidade continuam a aumentar, com 54% dos adultos com excesso de peso ou obesos, e os dados indicam que o consumo de tabaco tem vindo a diminuir. No entanto, “16% das pessoas com 15 anos ou mais ainda fumam diariamente e a utilização regular de produtos de cigarros eletrónicos (vaping) está a aumentar”.
No caso do álcool, 19% dos adultos disse consumir em excesso pelo menos uma vez por mês, em média, com taxas superiores a 30% na Alemanha, no Luxemburgo, no Reino Unido e na Dinamarca.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é uma organização econômica intergovernamental com 38 países membros, fundada em 1961 para estimular o progresso econômico e o comercio mundial.
É um fórum de países que se descrevem comprometidos com a democracia e a economia de mercado, oferecendo uma plataforma para comparar experiências políticas, buscar respostas para problemas comuns, identificar boas práticas e coordenar as políticas domésticas e internacionais de seus membros.
A maioria dos membros da OCDE é formada por economias de alta renda com um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) muito alto e consideradas países desenvolvidos.
Em 2017, os países membros da OCDE representavam coletivamente 62,2% do PIB nominal global (49,6 trilhões de dólares)[2] e 42,8% do PIB global (54,2 trilhões de dólares internacionais) por paridade de poder de compra. A organização é um observador oficial das Nações Unidas.
Em 1948, a OCDE se originou como a Organização para a Cooperação Econômica Europeia (OCEE) liderada por Robert Marjolin, da França, para ajudar a administrar o Plano Marshall (que foi rejeitado pela União Soviética e seus Estados satélites). Isso seria alcançado alocando a ajuda financeira dos Estados Unidos e implementando programas econômicos para a reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial.. (Ajuda de reconstrução semelhante foi enviada à República da China, devastada pela guerra, e à Correia do pós-guerra, mas não com o nome “Plano Marshall”.)
Em 1961, a OCEE foi transformada na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico e a adesão foi estendida a países não europeus. Sua sede fica no Château de la Muette, em Paris, França. ANG/Angop