Itália/Falta de investimento na educação custará US$ 10 trilhões por ano à economia mundial, adverte Unesco
(ANG) – A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) divulgou segunda-feira (17) um relatório apontando para as consequências da baixa escolaridade e da falta de políticas educativas no mundo.
Segundo o documento, os investimentos insuficientes na educação poderão custar US$ 10 trilhões (R$ 54,1 trilhões) anualmente aos países.
No relatório intitulado “O preço da inação”, especialistas da Unesco alertaram que o prejuízo supera o Produto Interno Bruto (PIB) conjunto da França e do Japão, dois dos países mais ricos do mundo. Segundo a diretora-geral da organização, Audrey Azoulay, esse será o resultado de um “círculo vicioso” da “falta de investimento na educação de qualidade”.
“As pessoas com menos formação têm menos competências. Os trabalhadores pouco qualificados ganham menos. As pessoas com rendas baixas pagam menos impostos, o que significa que os governos possuem menos recursos para investir em sistemas educativos acessíveis a todos”, explicou Azoulay à AFP.
O relatório aponta que 250 milhões de menores (cerca de 128 milhões de meninos e 122 milhões de meninas) não frequentaram escolas em 2023. Nos países de baixa e média renda, entre as crianças de 10 anos que tiveram acesso a aulas, 70% não conseguem compreender textos simples.
Segundo o relatório, o déficit de competências atinge 94% na região da África Subsaariana, 88% no sul e oeste da Ásia, 74% nos países árabes e 64% na América Latina e no Caribe.
Durante uma reunião de ministros da Educação na Unesco, em Paris, o presidente chileno, Gabriel Boric, que co-dirige o Comitê de Alto Nível para uma Educação de Qualidade para Todos, afirmou que uma educação de qualidade é um recurso para enfrentar “outros desafios da atualidade, desde a redução da pobreza até ao combate às mudanças climáticas”.
Já Audrey Azoulay fez um apelo aos 194 Estados-membros da Unesco para “respeitem o seu compromisso de transformar a educação de um privilégio numa prerrogativa para todos os seres humanos em todo o mundo”.
Segundo ela, caso os países reduzam em 10 por cento o número de jovens que abandonam os estudos de forma precoce, o PIB mundial cresceria entre 1por centoi e 2 por cento ano, conclui o documento.
“A educação é um investimento estratégico, um dos melhores investimentos possíveis para os indivíduos, as economias e a sociedade como um todo”, salientou Azoulay.
No relatório, a Unesco também ressalta que, para além dos critérios financeiros, a educação também tem impacto na gravidez precoce. O problema é registrado entre 69% de jovens com menor escolaridade, segundo dados compilados pela organização.
Para alcançar o objetivo de uma educação de qualidade para todos, a Unesco lista dez recomendações aos países. A primeira delas é a garantia de uma escolaridade gratuita durante no mínimo 12 anos.
A instituição também sugere um investimento na primeira infância, de forma que meninos e meninas tenham acesso à aprendizagem o mais cedo possível. A Unesco também preconiza programas que ofereçam “uma segunda chance” para que jovens que tiveram que interromper sua educação possam retomá-la ao longo da vida.
O relatório destaca ainda a importância de um meio educacional seguro e inclusivo, com uma atenção particular à igualdade de gêneros. “A Unesco também incentiva os Estados a sensibilizarem as comunidades locais e as famílias para a importância de as meninas e os meninos concluírem um ciclo completo de educação e a envolverem os pais nas atividades e na gestão escolar”, conclui o documento. ANG/RFI