Moçambique/Centro de Integridade Pública contabiliza uma dezena de mortos durante protestos
(ANG) – O Centro de Integridade Pública de Moçambique, CIP, uma das ONGs que acompanharam o processo eleitoral, estimou este fim-de-semana que dez pessoas morreram durante os dois dias de manifestação convocados quinta e sexta-feira passados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, sendo que o balanço destes dias de protesto terá resultado em dezenas de feridos e 500 detenções.
Dados diferentes daqueles fornecidos pela polícia moçambicana que deu conta de confrontos e de 371 detenções.
No boletim que publicou no sábado, , o CIP refere-se aos dias de protesto como tendo sido “de terror em algumas cidades e vilas como Maputo, Matola, Boane, Chimoio, Nampula e Nacala-Porto. O saldo até aqui é de cerca de dez pessoas assassinadas pela polícia, dezenas de feridos e cerca de 500 detidos”.
“Geralmente a polícia não anuncia quando é a morte. Às vezes é o centro de saúde que vai dizer. Houve uma morte, mas não fala de outras mortes. Chimoio fala-se de uma pessoa que morreu, mas as nossas contas falam mais ou menos de 4 a 5 pessoas. Na cidade de Maputo, por exemplo, fala-se de uma pessoa que morreu, mas só na província de Maputo, em Boane morreu uma pessoa. Não está contabilizada nas estatísticas. Na cidade de Maputo morreram, acho que foram duas pessoas. Só se contabilizou uma pessoa. Em Nampula, morreram duas pessoas, só se contabilizou uma pessoa. Então, somando tudo isso, chega-se a uma dezena de pessoas que morreram”, explica Lázaro Mabunda, editor do boletim do CIP.
“Em relação aos feridos, se nós formos a ver, só naquela noite (de quinta-feira) em Chimoio, houve 44 feridos, mas as autoridades não falam desses números. Nampula fala-se de poucos feridos, mas Nampula teve mais de dez feridos. Gaza não se fala do número de feridos. Só se fala de 18 detenções, mas nessas detenções, houve feridos. São esses dados que nós andamos a recolher e a confrontar nos com as estatísticas que são fornecidos pelo governo”, refere o activista.
Evocando os dados que têm em mãos sobre as detenções efectuadas durante os dois dias de protestos, Lázaro Mabunda explica ainda que “geralmente, as estatísticas oficiais, quando são anunciadas, são niveladas por baixo. Falam de 371 detidos, mas não falam onde é que essas pessoas foram detidas. E se for a fazer análise, em cada província há dezenas de detidos. Então, somando isso, os números estão acima de 400, Então estimamos em mais ou menos 500.”
Neste mesmo relato, o CIP refere que três sedes da Frelimo no poder foram queimadas durante esse período, que diversos comércios foram pilhados e veículos incendiados.
“O dia 24 tinha começado calmo em todo o país, mas o cenário mudou após o anúncio dos resultados eleitorais. Milhares de cidadãos, maioritariamente jovens, saíram às ruas para contestar os resultados eleitorais que deram 70% de votos a favor da Frelimo, uma mega fraude nunca vista na história do país”, refere o CIP que na sexta-feira, num comunicado conjunto com outras duas organizações da sociedade civil (CDD e CESC), exigiu uma “recontagem dos votos em todas as assembleias de voto do país”e a“publicação dos editais originais de todas as mesas”.
Recorde-se que na passada quinta-feira, a Comissão Nacional de Eleições de Moçambique anunciou os resultados das eleições gerais de 9 de Outubro, atribuindo a vitória a Daniel Chapo, candidato da Frelimo no poder, com um pouco mais de 70% dos votos, contra cerca de 20% para Venâncio Mondlane, apoiado pelo Podemos, cerca de 6% para a Renamo e um pouco mais de 3% para o MDM.
Na sequência deste anúncio, os candidatos da oposição informaram que recusavam estes resultados, sendo que Venâncio Mondlane reforçou o seu apelo à manifestação. Este último anunciou, entretanto, durante o fim-de-semana que tencionava convocar novos dias de protestos e apelou à união da oposição.ANG/RFI