Rússia/Defensor de direitos humanos Oleg Orlov julgado em Moscovo
(ANG) – O novo julgamento de Oleg Orlov, defensor de causas ligadas aos direitos humanos na Rússia, começou hoje em Moscovo, tendo o dissidente expressado receios sobre o processo.
“Não espero nada de bom”, disse ao jornalista da Agência France-Presse (AFP) presente na sala de audiências.
Membro veterano da organização não-governamental Memorial, que ganhou o Prémio Nobel da Paz em 2022 e dissolvida por ordem judicial, Oleg Orlov, 70 anos, pode ser condenado a até cinco anos de prisão pelas repetidas denúncias do ataque à Ucrânia.
Após um primeiro julgamento em 2023, Oleg Orlov foi considerado culpado por “desacreditar” o Exército russo e condenado a uma multa.
Na altura, os juízes pediram o pagamento de “uma pequena multa”, justificando a sentença referindo-se à idade e ao estado de saúde do opositor.
Apesar da primeira decisão, o Ministério Público russo recorreu lamentando o facto de a pena ser “excessivamente leve” e não corresponder ao “perigo público” representado pelo acusado.
Os tribunais russos decidiram então devolver o processo contra Orlov aos investigadores e iniciar um novo julgamento contra o dissidente com base nas mesmas acusações.
A maioria dos críticos de Vladimir Putin foi detida ou forçada ao exílio nos últimos anos, num cenário de repressão acelerada.
Oleg Orlov disse à AFP esta semana que pretende ficar na Rússia para “continuar a luta”.
“Ninguém duvida que serei condenado”, disse na mesma entrevista realizada no apartamento onde reside no norte de Moscovo.
O opositor russo é acusado de se ter manifestado contra a agressão de Moscovo na Ucrânia e de ter assinado um artigo em que critica as autoridades.
O texto foi publicado no portal de notícias francês Mediapart.
No artigo, Orlov acusava as tropas russas do assassínio “em massa” de civis ucranianos e denunciava a “vitória” na Rússia das “forças mais obscuras”, as mesmas que “sonhavam com a vingança total” após o desmembramento da União Soviética, em 1991.
Em Fevereiro, as autoridades russas incluíram o nome do dissidente na lista de “agentes de estrangeiros”, uma qualificação que implica restrições administrativas rigorosas.
Nos últimos anos, centenas de outras pessoas, incluindo ativistas dos direitos humanos, opositores e jornalistas independentes, foram colocados na mesma lista.
Ativo desde a década de 1970, Oleg Orlov tornou-se uma voz destacada da Memorial, a principal organização que luta na Rússia para preservar a memória da repressão soviética e que documenta a o regime do Presidente Putin.
A organização não-governamental foi dissolvida no final de 2021 pelos tribunais russos tendo sido galardoada com o Prémio Nobel da Paz de 2022, alguns meses após o início do ataque russo à Ucrânia. ANG/RFI