UE/Acordo preliminar aponta António Costa como presidente do Conselho Europeu
Bissau, 26 Jun 24 (ANG) – Os seis chefes de Governo e de Estado da União Europeia -que, no Conselho Europeu, estão a negociar os cargos de topo – alcançaram um acordo preliminar com os nomes de António Costa para a liderança do Conselho Europeu, o de Ursula von der Leyen para um segundo mandato na Comissão Europeia e o da primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, para chefe da diplomacia comunitária.
Roberta Metsola também deverá ser reconduzida no cargo de presidente do Parlamento Europeu, apesar de não fazer oficialmente parte do pacote por não ser escolhida pelo Conselho Europeu.
Este é um acordo partidário, alcançado pelos dirigentes do Partido Popular Europeu, dos sociais-democratas e dos liberais. Ou seja, é um acordo preliminar e não final, pelo que só poderá ser confirmado e aprovado na cimeira de líderes esta quinta e sexta-feira, em Bruxelas. Os nomes terão de ser aprovados por maioria qualificada, ou seja, pelo menos 15 países, o que representa 65% da população europeia.
Carlos Zorrinho, antigo eurodeputado socialista português, reage com satisfação ao anúncio dos acordos entre os três maiores partidos políticos europeus em torno destas nomeações. Para ele, trata-se de “uma resposta equilibrada no momento em que a União Europeia tem que ter esse tipo de posição de equilíbrio e de consistência.”
RFI: Como reage ao acordo preliminar sobre os os cargos de topo nas instituiçoes europeias, que confirmam António Costa como futuro presidente do Conselho Europeu?
Carlos Zorrinho, antigo eurodeputado socialista português: “Em primeiro lugar, é muito importante que tenha havido alguma serenidade na indicação destes nomes que esperamos que se venham a confirmar. Neste momento político, para a União Europeia é muito importante que haja uma perspectiva de consolidação da visão europeísta. Recordo que este acordo deve ter sido baseado também na audição de outros grupos… Apresenta três candidatos das três maiores forças, duas porque o ECR, neste momento, já tem mais algum peso no Parlamento Europeu do que o “Renew” [Renovadores], mas as três grandes forças europeístas: o Partido Popular Europeu, que indica a continuidade da presidente da Comissão Europeia, os socialistas e democratas que indicam a presidência do Conselho Europeu e o grupo liberal “Renew” que indica uma candidata para a política externa.
Depois, é importante que tenhamos a experiência de Ursula von der Leyen, depois do mandato que, globalmente, foi positivo à frente da União Europeia. Termos um presidente do Conselho Europeu que tem uma grande reputação, muita experiência, talvez dos membros do Conselho Europeu – até há muito pouco tempo – mais antigos, com mais anos de Conselho Europeu, com mais dossiers, em que foi muito activo e decisivo na negociação, representando também um país do Sul e, portanto, Portugal, que é algo também que é relevante. E temos alguém nos assuntos externos que vem de um país que está muito directamente envolvido neste momento, pela proximidade também nalguns dos conflitos geopolíticos e geoestratégicos que temos que resolver.
Espero que seja aprovada com facilidade esta proposta na reunião formal do Conselho porque penso que é uma resposta equilibrada no momento em que a União Europeia tem que ter esse tipo de posição de equilíbrio e de consistência.”
Para António Costa, o calcanhar de Aquiles teria sido a operação Influencer? Essa teria sido uma das reservas, por exemplo, do presidente polaco relativamente a ele? Acha que esta situação ficou a pesar sobre o “timing” dos anúncios destas nomeações? Que havia, de facto, reticências relativamente ao caso do ex-primeiro-ministro português por causa deste escândalo de corrupção ao qual o nome dele esteve associado a dada altura ?
“Neste processo em concreto, não estive muito envolvido, mas estive muito envolvido, como presidente da delegação portuguesa no Parlamento Europeu, por exemplo, nas negociações de 2019, de 2014, e tenho consciência – devemos todos ter consciência – que há muitas negociações, há muitas declarações que servem para ganhar espaço, para ganhar algumas vantagens ou desvantagens porque é isso mesmo. É um processo negocial entre 27 países, entre várias famílias políticas. Penso que nunca esteve em causa a partir de determinado momento, sobretudo, a partir do que foi revelado em Portugal sobre a não constituição como arguido de António Costa em nenhum processo. Penso que nunca esteve em causa politicamente a sua nomeação, como também nunca esteve em causa a unidade que é decisiva dos socialistas e democratas em torno do seu nome.
Agora, certamente, algumas coisas foram conhecidas na imprensa: a declaração do primeiro-ministro croata, a declaração de Donald Tusk e outras coisas mais. Outras certamente não foram conhecidas, mas têm a ver com o processo negocial que é algo que é muito complexo porque estamos a escolher três pessoas. Teremos também que escolher, penso que será Roberta Metsola, pelo menos na primeira parte do mandato, a candidata ao Parlamento Europeu, mas estamos a escolher quatro pessoas a partir de uma base de 27 países, multiplicado depois por, enfim, vamos ver quantas famílias políticas se constituem, mas sete ou oito famílias políticas e 720 eurodeputados que vão depois ter que validar tudo o que for escolhido. Ou praticamente tudo, o Presidente do Conselho, não. Portanto, esta complexidade justifica isso e a necessidade também de haver uma história mediática, isso faz parte.” ANG/RFI