Ismael Hipólito Djata, pintor e galerista guineense galardoado em Paris
(ANG) – O pintor e galerista guineense, Ismael Hipólito Djata foi recentemente galardoado em Paris com o diploma e “Medalha de Vermeil” da Sociedade Académica de Educação e de Encorajamento da França.
Em entrevista à Ràdio França Internacional(RFI), Ismael Hipólito Djata disse que a sua galeria, que surgiu há cinco anos no mercado de artesanato de Bissau, assume-se como um espaço inédito onde se concentram as vendas de estatuetas, jóias e objectos de decoração produzidos localmente.
Para além de dar a conhecer o seu trabalho, este espaço apresenta as telas e aguarelas de diferentes artistas do país.
“Entrar neste pequeno espaço repleto de quadros que se assemelha a uma galeria de pequenos tesouros é entrar também em diferentes espaços mentais paralelos feitos de sentimentos, sonhos garridos e olhares que nos interrogam”, salientou.
Ismael Hipólito Djata, explicou a RFI o que o levou a criar esta galeria de arte em Bissau juntamente com o irmão, depois de ter estudado em Portugal e ter vivido por algum tempo em Londres.
“Tenho viajado em vários países, projetando a arte e a cultura da Guiné-Bissau. Então, desde o princípio, assumi que eu sou embaixador nato da Guiné-Bissau. Estudei em Portugal, estive lá 11 anos, mas nunca pretendi enveredar pela imigração”, começa por explicar o pintor ao referir ter escolhido estabelecer-se no seu país, por considerar que pode ser útil.
Reitera que o seu país preisa dele e ele precisa de ajudar a nova geração.
“Preciso projectar o país e é isso que temos feito (…). Este ano, conseguimos ajudar 14 meninas a entrar no mundo da arte e tornarem-se profissionais. É um país que tem 70 e tal artistas nacionais e internacionais, mas só temos 3 senhoras. Tentamos ajudar as mulheres a empoderar-se pela arte”, sublinha Ismael Hipólito Djata.
“A pintura para mim, é o amor”, diz o artista que refere gostar particularmente de pintar as mulheres e as crianças por causa“daqueles olhares impressionantes, aqueles olhares que comunicam”. O pintor cujo estilo é hiper-realista, diz basear-se frequentemente em fotografias mas refere que por vezes “faz aquele desafio de libertar o pensamento, indo procurar, pensar no futuro”.
Ao evocar as actividades da galeria que apresenta as suas obras mas também de outros artistas nacionais, Ismael Hipólito Djata refere que também dá aulas de pintura.
“A escola é aqui mesmo na galeria. As pessoas matriculam-se e nós vamos dando aulas com muita dificuldade porque é um país onde não há materiais. Por isso, tenho de comprar em Portugal (…). Alguns alunos são diplomatas, alguns são alunos que têm dificuldade na escola na disciplina do desenho”, explica o artista ao referir que quem tem meios financeiros paga as aulas enquanto outros alunos, com mais dificuldades, recebem formação gratuitamente.
Ismael Hipólito Djata também dá conta do papel social que a arte pode ter. “Às vezes quando vendo as minhas obras, quando sei que alguma zona tem dificuldades, ajudo. Já construí três escolas aqui no país e há um projecto no qual estou a trabalhar há um ano para a construção de bibliotecas, não a nível nacional, mas em zonas remotas do país. O último evento que nós fizemos, o ‘Mindjer-Arte’, é uma primeira bienal para a descoberta de novos talentos (…) para o empoderamento da arte feminina”, refere o galerista.
Questionado sobre os desafios que tem enfrentado ao instalar a sua galeria de arte em Bissau, Ismael Hipólito Djata refere que um dos maiores obstáculos com que se deparou é a falta de informação do público sobre as artes plásticas.
“É muito difícil porque estamos num país onde não é incutida a cultura de valorizar e respeitar a pessoa, não há aquela cultura de conhecer o que são as artes plásticas. As pessoas pensam que a cultura é apenas baseada na música. O respeito que têm pelos músicos é o respeito que poderiam ter por um escultor, um pintor, um artesão. Mesmo o Estado em si não respeita essas áreas. Então é muito difícil porque, muitas vezes, vemos pessoas que não têm noção do que é. Quando vêm a pintura e não sabem qual é o valor, a primeira coisa de que falam é o preço, ‘isto é muito caro'”, lamenta.
“O país tem que pensar que quer continuar a ter artistas plásticos. O país tem que trabalhar muito nisso. a primeira dificuldade é a aquisição de materiais e, esses materiais, temos que comprar fora (…). E depois, nós não temos galerias para fazer uma exposição, um grande evento de arte. O Centro Cultural Português tem um espaço mas não um espaço propriamente dito para exposições, é um espaço criado para ter biblioteca. O Centro Cultural Francês tem um espaço, mas agora acabaram com aquele espaço porque é uma sala de aulas para alunos que vão lá aprender francês. Quando essa nova geração quer expor as suas obras, não pode. Também não há muito apoio para eles (…). É preciso que o Estado trabalhe muito nesse âmbito”, conclui Ismael Hipólito Djata referindo já de olhos postos noutro projecto, a construção de um centro cultural no seu país.ANG/RFI