RDC/HRW acusa M23 e Ruanda de bombardear “indiscriminadamente” campos de deslocados
(ANG) – A ONG Human Rights Watch (HRW) acusou nesta quinta-feira a rebelião do M23 e o exército ruandês de “bombardearem indiscriminadamente” desde o início do ano campos de deslocados perto de Goma, no leste da República Democrática do Congo onde, segundo esta organização, a população também é alvo de violências do exército congolês.
Depois de uma relativa acalmia, a partir de Novembro de 2021, o M23 (“Movimento de 23 de Março”), grupo armado maioritariamente tutsi que Kinshasa acusa dde ser apoiado pelo Ruanda, tomou o controlo de vastas extensões de território no leste da RDC, região rica em minerais e palco de contínuos confrontos há três décadas.
As violências protagonizadas pelo M23 com o suposto apoio de forças ruandesas provocou uma crise humanitária sem precedentes com quase 7 milhões de deslocados internos, muitos dos quais encontraram refúgio em campos nos arredores de Goma, no leste da RDC.
“Desde o início de 2024, o exército ruandês e o grupo armado M23 bombardeiam indiscriminadamente campos de deslocados e outras áreas densamente povoadas perto de Goma”, afirma em comunicado a delegação da HRW no Quénia.
De acordo com esta ONG de defesa dos Direitos Humanos, existem dados sobre cinco ataques “claramente ilegais”, em que bombardeamentos atingiram civis.
A Human Rights Watch menciona nomeadamente um ataque que causou oficialmente 35 mortos no campo de Mugunga no passado dia 3 de Maio.
Washington acusa “as forças armadas de Ruanda e do M23”de estar na origem dos disparos, uma acusação que Kigali qualificou de“ridícula” e “absurda”.
A HRW aponta também um dedo acusador sobre o exército congolês. Segundo a ONG, as tropas congolesas e seus aliados “colocaram os deslocados em maior risco ao colocar artilharia nas proximidades”.
Por outro lado, esta organização também denuncia ataques e abusos das tropas congolesas e seus aliados nesses mesmos campos.
“Soldados congoleses e uma coligação de milícias responsáveis por abusos conhecidos como ‘Wazalendo’ (os patriotas, em swahili) abriram fogo dentro de campos de deslocados, matando e ferindo civis”, refere a HRW que também denuncia casos de violações de mulheres dentro e fora dos campos de deslocados.
Já no passado mês de Agosto, um estudo da Médicos Sem Fronteiras indicava que mais de uma em cada dez mulheres jovens afirmava ter sido violadas nos campos de deslocados de Goma.
“Ambas as partes mataram habitantes dos campos, cometeram violações, travaram o fornecimento de ajuda humanitária e cometeram outros abusos”, resume a HRW.
Uma situação perante a qual o Presidente congolês Félix Tshisekedi reclamou ontem na Assembleia Geral da ONU “sanções direccionadas”contra o Ruanda, evocando “uma grave violação da soberania nacional” congolesa.
Muito embora Kinshasa, os Estados Unidos e a França tenham acusado em diversas ocasiões o Ruanda de apoiar o M23, o Conselho de Segurança da ONU limitou-se até agora a condenar o “apoio militar estrangeiro” dado ao M23.
Refira-se, por outro lado, que estas acusações surgem numa altura em que Angola afirma que a RDC e o Ruanda estão prestes a chegar a um consenso.
Na passada terça-feira, na tribuna da Assembleia Geral da ONU, o Presidente angolano que está a mediar as negociações entre os dois países afirmou que “foi colocada sobre a mesa uma proposta de um acordo de paz formulada pela República de Angola, envolvendo a República Democrática do Congo e a República do Ruanda, cujos termos vêm sendo discutidos pelas partes a nível ministerial”. Esta proposta de acordo, contudo, não envolve os rebeldes do M23.ANG/RFI