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“Doentes mentais na Guiné-Bissau ainda vivem níveis brutais de rejeição”, diz presidente da FPDGB

“Doentes mentais na Guiné-Bissau ainda vivem níveis brutais de rejeição”, diz presidente da FPDGB

(ANG) – A Guiné-Bissau conta apenas com um centro público de saúde mental, o Centro Osvaldo Vieira, integrado na Faculdade de Medicina. 

Trata-se de um centro ambulatório, que não tem serviço de internamento. Para além desse local, existem duas clínicas privadas, nos arredores de Bissau.

Sendo clínicas privadas, coloca-se inevitavelmente a questão dos recursos financeiros que podem deixar de lado grande parte da populaçãogerando ainda outro nível de desigualdade, desta vez no acesso ao tratamento. 

Se o guineense já luta diariamente para poder garantir o pão na mesa, como é que podemos imaginar que o guineense seria capaz de investir num membro da estrutura familiar que tenha problemas de saúde mental“, questiona Pedro Cabral.

Presidente da Federação das Pessoas com Deficiência na Guiné-Bissau(FPDGB), é com ele que abordamos estas questões. 

As estratégias políticas para tratamento da saúde mental são “inexistentes” no país, até porque “o próprio Estado considera que as doenças mentais e deficiências físicas são transmissíveis“, aponta o também sociólogo.

Fora da esfera política, é no núcleo famíliar que a exclusão agrava o percurso de vida do paciente. 

Certas famílias consideram que uma pessoa com deficiência terá menos utilidade do que uma pessoa sem deficiência. A família é a origem de tudo, a origem de tudo. E os níveis de rejeição brutais que se vive na Guiné-Bissau enquanto deficiente mental ou físico têm génese na estrutura familiar. O estereótipo começa dentro da própria família“, analisa Pedro Cabral. 

Existe também influência das práticas religiosas e culturais na percepção dos guineenses relativamente à doença mental e física. Testemunhando com a sua própria experiência, Pedro Cabral nota que se diz dos cegos “que, caso não morram cedo, são feiticeiros ou têm bruxaria“.

A pessoa com deficiência tem dupla limitação: limitação natural decorrente da deficiência e limitação decorrente rejeição da sociedade.

Ficam no entanto algumas notas positivas: o progresso tecnológico facilita a vida das pessoas em causa e, é verdade, nota-se maior tolerância e compreensão do fenómeno graças ao trabalho dos actores da sensibilização (associações, ONG, etc). 

Por exemplo, Pedro Cabral com quem falámos, portador de deficiência visual, tirou um curso na Universidade Lusófona de Bissau e mestrado na Faculdade de Direito; responde às mensagens do telemóvel graças a uma aplicação e é hoje um exemplo encorajador para muitos jovens na mesma situação. 

Falta agora a implementação de políticas a nível do Estado para que o progresso dos direitos das pessoas com deficiência seja efectivo. ANG/RFI

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