França/UNESCO: Arquipélago dos Bijagós já é Património Mundial Natural
(ANG) – O arquipélago dos Bijagós, na Guiné-Bissau, foi classificado no domingo pela UNESCO, em Paris, como Património mundial natural.
Não era a primeira candidatura destas ilhas, que já são também Reserva da Biosfera. Viriato Cassamá, Ministro do Ambiente, da Biodiversidade Ação Climática, festejou com a sua delegação na capital francesa. O Insituto da Biodiversidade e Áreas Protegidas também celebrou o evento na noite de domingo, na capital guineense.
O Comité do Património Mundial da UNESCO está reunido até dia 16 em Paris, na sede da organização.
Foi neste contexto que o Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura anunciou no domingo ter validado este segundo pedido da Guiné-Bissau para que as Ilhas Bijagós ficassem doravante com o estatuto de Património Natural Mundial.
O arquipélago de 88 ilhas é habitado por 33 000 pessoas e possuía desde 1996 o estatuto de Reserva da Biosfera.
Estas ilhas têm três parques naturais, nas ilhas de Orango, em João Vieira e Poilão e nas ilhas Urok.
Uma área natural onde nidificam tartarugas, vivem hipópotamos e se alimentam aves migratórias, provenientes do norte da Europa.
O Ministro do Ambiente, Viriato Cassamá, contou à RFI, o que foi feito para que, desta feita, se alcançasse, mesmo, este prestigioso estatuto para as Ilhas Bijagós, após o chumbo de uma primeira candidatura há mais de uma década.
“Houve várias recomendações por parte do Comité do Património Mundial e nós, ao longo desses últimos anos, trabalhámos arduamente a fim de podermos cumprir com todos os pressupostos elencados na altura pelo Comité e, felizmente, conseguimos cumprir com todos esses pressupostos. A razão pela qual reapresentámos a candidatura do arquipélago dos Bijagós ao sítio de Património Natural da UNESCO.
Estamos a celebrar porque é um acontecimento que todo o povo e amigos da Guiné-Bissau tem acompanhado nestes últimos meses e, felizmente hoje, pela reacção de todo o pessoal, nota-se que todo o mundo está contente porque trata-se de um desígnio nacional, um património mundial natural no nosso país é muito importante. De mais a mais, é o primeiro que nós temos ao nível da Guiné-Bissau. Está todo o mundo contente. Estamos a festejar não só aqui em Paris, como também em Bissau, na sede do Instituto da Biodiversidade e Áreas Protegidas. Hoje, às 19h de Bissau, iremos celebrar, mas quando regressarmos vamos ter que celebrar em força esta acontecimento”, disse o governante.
Mas qual será, de facto, a grande diferença entre a Reserva da Biosfera que já era? Este arquipélago guineense agora chegar a este patamar. Prevêem-se grandes mudanças ?
“A Reserva da Biosfera é uma classificação que não chega ao patamar do Património natural mundial. Com certeza… nós estamos muito contentes porque a partir de agora, a Guiné-Bissau irá figurar no mapa do mundo no que toca à conservação da biodiversidade e do ambiente no seu todo, não é?”, disse Cassamá.
Mas não é uma faca de dois gumes ? Ou seja, mais visibilidade, maior notoriedade, talvez mais turismo, mais visitantes, maior pressão demográfica. E, de facto, o ambiente destas 88 ilhas é extremamente frágil, vulnerável, há muitas insuficiências a nível de infra-estruturas sanitárias e tantas outras.
Como é que vai ser gerir isto? E em que medida é que, de facto, o que é o “Tesouro” da Guiné-Bissau, em relação a esta área natural, pode ser mesmo preservada sem um afluxo que possa vir a colocar em causa este “tesouro”?
“Sem sombra de dúvida. Por isso é que há o princípio do desenvolvimento sustentável nós temos que saber equilibrar o desenvolvimento económico, cultural e ambiental, não é?
E é nesta base que se propôs a candidatura. Nós temos a plena consciência dos possíveis perigos, mas vamos trabalhar nisso porque agora a classificação passou, não é?
Mas vamos ter que trabalhar nisso. Vamos ter que ter um plano de acção. Como é que vamos gerir isto tudo? Porque nós temos uma política da sustentabilidade no país e vamos promover muito mais o turismo sustentável, porque esta passagem para o Património Mundial natural da UNESCO tem uma importância não só estratégica como também ecológica, cultural e socio-económica. Não é pelas seguintes razões que eu posso elencar aqui. O reconhecimento internacional do valor excepcional do património natural da Guiné-Bissau vai, com certeza, em termos de biodiversidade e conservação ambiental, como eu disse, colocar a Guiné-Bissau no mapa global da excelência Ambiental.
Também representa o reconhecimento oficial da comunidade internacional do valor universal que o arquipélago tem, particularmente pelas suas zonas húmidas, ecossistemas costeiros, florestas, mangais, praias onde se edificam as tartarugas marinhas e as zonas de alimentação de muitas aves migratórias que saem mesmo dos países nórdicos da Europa.
E como segundo ponto, nós apontámos muito o reforço da protecção e da conservação ambiental que irá permitir, com certeza, fortalecer os mecanismos de gestão e de conservação dos ecossistemas sensíveis através de parcerias técnicas e financeiras com algumas instituições internacionais.
Também iremos atrair muitos investimentos para protecção da biodiversidade. Neste caso, a protecção das espécies emblemáticas como o manatim africano, que estão em vias de extinção, as tartarugas marinhas, os hipopótamos e algumas aves migratórias.
Também temos que promover o “saber fazer” tradicional, porque o que temos nos Bijagós é graças ao “saber fazer” tradicional das comunidades ancestrais e tem posto em prática e passar este conhecimento para as novas gerações, não é? Por isso é que temos todo esse manancial de biodiversidade no arquipélago dos Bijagós. E temos que continuar e valorizar o saber fazer tradicional, preservar a identidade cultural única dos Bijagós. Nós pensamos que essa nossa política irá continuar. Irá ser o apanágio de toda a nossa acção. A sua inscrição também trará, com certeza, as oportunidades do desenvolvimento sustentável”, disse.
E o isolamento relativo em termos de acesso às comunicações aleatórias não podem ser um calcanhar de Aquiles para implementar muitas destas políticas ?
“Sem sombra de dúvida. Por isso é que existe um fundo do Comité do Património Mundial. É este fundo. Ainda tive reuniões paralelas antes de ontem. Fundo do Comité do Património Mundial está disposto para acompanhar a Guiné-Bissau. O arquipélago existe. Já há turismo na zona, independentemente de ser o Património natural mundial da UNESCO. Como disse e bem, já era Reserva da Biosfera. E, mas nós temos estado a equilibrar o turismo com a preservação da biodiversidade”.
Portanto, não será só Bubaque. João Vieira Outras ilhas poderão vir a ser apostas deste turismo tão ligado para o meio ambiente ?
“Sem sombra de dúvidas, sim, sim”. disse Viriata Cassamá. ANG/RFI