Guiné-Bissau deixou de usar mas paga ‘energia’ de central flutuante turca
(ANG) – A empresa de Eletricidade e Águas da Guiné-Bissau (EAGB) recebe, desde finais de agosto, a energia de um projeto sub-regional e deixou de usar a central flutuante de uma empresa turca, mas continua a pagar-lhe por razões contratuais.
A informação foi quarta-feira revelada à Lusa por Vasco Rodrigues dos Santos, gestor português, contratado pelo Banco Mundial para gerir a EAGB.
De acordo com Vasco dos Santos, a EAGB está a receber 25 megawatts de energia elétrica da OMVG (Organização de Aproveitamento da Bacia do Rio Gâmbia, em sigla francesa), produzida na barragem de Kaleta, na Guiné-Conacri, e deixou de usar a que era produzida na central flutuante da empresa turca, estacionada no porto de Bissau.
Ainda no âmbito desta rede sub-regional, que liga a Guiné-Conacri, ao Senegal, à Gâmbia e à Guiné-Bissau, chega à rede elétrica guineense energia vinda do território senegalês, enfatizou o diretor-geral da EAGB.
Desde o passado mês de agosto que a EAGB deixou de receber, para injectar na rede pública de Bissau, a energia que era produzida por uma central flutuante que a empresa turca Karpower colocou à disposição da Guiné-Bissau no âmbito de um contrato.
“O barco, a central flutuante da Karpower, está desligada desde o dia 23 de agosto na sequência da conclusão dos trabalhos e da rede, em anel, (…) que liga Bissau à rede da OMVG”, referiu.
O diretor-geral da EAGB garante que se houver uma falha de um lado, por exemplo na linha de interconexão da Guiné-Conacri, a energia não faltará em Bissau, por vir também do Senegal, desde a semana passada.
A transição do fornecimento tem provocado falhas de energia nas últimas semanas, mas as melhorias na rede em Bissau, segundo Vasco dos Santos, são notórias.
Quanto ao preço da energia para o consumidor, este só irá baixar quando for resolvido “o problema do contrato” da EAGB com a empresa Karpower, explicou.
“O barco não fornece energia, mas contratualmente nós temos um contrato até 2031. A Guiné-Bissau fez um contrato até 2031 e segundo o qual a partir do dia 9 de dezembro deste ano a capacidade vai passar para (fornecimento de) 50 megawatts e depois para 70 megawatts e estamos a consumir zero, mas tem de se pagar. Teoricamente tem de se pagar”, observou o gestor português.
Tecnicamente a EAGB “está em falência” pelo que não tem como pagar à Karpower, disse Vasco dos Santos, que propôs à empresa turca uma solução negociada ainda em discussão, notou.
“Nesta altura paga-se só por o barco estar ali, um milhão e 500 mil dólares por mês” (cerca de 1,4 milhões de euros) afirmou o gestor português, realçando, contudo, que a EAGB não consegue pagar aquela mensalidade, “por falta de dinheiro”.
Neste momento a EAGB até está a comprar por metade do preço a energia à OMVG, em relação a Karpower, mas Vasco dos Santos defende que a empresa não consegue baixar o preço da energia enquanto não acabar com as isenções e fizer com que todos os consumidores a paguem.
O gestor português nota que muitos funcionários da empresa, por exemplo, não pagam a energia consumida.
Para já, Bissau está a receber 25 megawatts de energia da OMVG, mas dentro de quatro meses a potência será aumentada para 35 megawatts, de forma a ligar unidades industriais, e até finais de 2025 todo o interior da Guiné-Bissau terá energia do projeto sub-regional, adiantou o gestor português.
Vasco dos Santos quer também que o Governo acompanhe a empresa na atualização da tarifa de água fornecida à população de Bissau que considera “muito baixa”.
“O preço da água na Guiné-Bissau é o mais baixo, de longe, da sub-região toda e ainda por cima nós temos o custo mais alto de produção porque há muitos países que têm barragens, captações em rios e nós não temos”, enfatizou o responsável. Atualmente, a EAGB capta água em furos através de bombas.ANG/Lusa