Haiti/ Primeiro-ministro apresenta demissão perante vaga de violência
(ANG) – O Primeiro-ministro interino do Haiti, Ariel Henry, perante a vaga de violência e a pressão de grupos armados, que controlam entre 80% a 90% da capital, Porto Príncipe cedeu à pressão dos parceiros regionais do país e apresentou a sua demissão.
Ariel Henry estava bloqueado em Porto Rico desde a sua viagem ao Quénia, onde deveria abordar a vinda de uma força policial sob supervisão queniana.
O primeiro-ministro demissionário comunicou, à distância, a sua decisão e terá deixado indicações para uma transição pacífica do poder. “O governo que lidero não pode permanecer insensível a esta situação. Como sempre disse, nenhum sacrifício é demasiado grande para a nossa pátria, o Haiti”, afirmou Airel Henry.
“Saudamos a demissão do primeiro-ministro com a criação de um conselho presidencial de transição e a nomeação de um primeiro-ministro interino. Quero agradecer ao primeiro-ministro Henry por ter servido o país, pelos seus compromissos ao povo haitiano e peço que o aplaudam”, declarou o Presidente da Guiana e da Caricom, Mohamed Irfaan Ali.
Esta segunda-feira, 11 de Março, os países das Caraíbas estiveram reunidos de urgência na Jamaica com representantes da ONU e de vários países, incluindo a França e os Estados Unidos, para tentar encontrar uma solução para o Haiti, assolado pela violência dos gangues e por uma crise de governação.
A demissão de Ariel Henry “veio abrir novas perspectivas porque até o dia da sua demissão, a situação estava bloqueada e a piorar”, defende o professor haitiano radicado em França, Rafael Lucas. Questionado sobre a possibilidade do primeiro-ministro demissionário deixar a política haitiana e se manter nos Estado Unidos, Rafael Lucas acredita que Ariel Henry não vai ter “hipótese de voltar para o Haiti porque é um dos Presidentes mais impopulares que houve na história do Haiti. É até meio estranho que não tenha sido assassinado, como aconteceu com o Presidente Jovenel em 2021”.
O professor haitiano radicado em França mostra-se céptico quanto à possibilidade do país organizar um escrutínio, numa altura em que grupos armados controlam o país. “É impossível organizar eleições num país em que os bandidos ocupam o Palácio de Justiça há três meses e em que também estão a ocupar quase 50% da capital. Eles estão muito bem armados, têm até carros blindados. Vai ser difícil. É uma nova Somália. Vai ser difícil restabelecer uma ordem institucional num caos desses”.
Sem eleições desde 2016, o Haiti não tem nem Parlamento, nem Presidente. O último chefe de Estado, Jovenel Moïse, foi assassinado em 2021. A onda de violência protagonizada por grupos armados aumentou quando a 28 de Fevereiro se soube que Ariel Henry, que devia ter deixado o poder a 7 de Fevereiro, nos termos de um acordo de 2022, se tinha comprometido a realizar eleições no Haiti apenas em 2025.
No início deste mês de Março, Ariel Henry assinou em Nairobi um acordo para permitir o envio de uma força multinacional do Quénia para o Haiti. ANG/RFI