Rússia/Putin defende aumento do comércio em moedas nacionais para escapar de sanções
(ANG) – O presidente da Rússia, Vladimir Putin, defendeu nesta terça-feira (22) o aumento do comércio em moedas nacionais para minimizar os “riscos políticos externos”, antes do início da reunião de cúpula do Brics em Kazan.
“Um aumento dos pagamentos em moedas nacionais torna possível minimizar os riscos políticos externos”, disse Putin, durante uma reunião com a ex-presidente Dilma Rousseff, atual presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), que financia projetos de infraestrutura e desenvolvimento nos países emergentes.
A Rússia é alvo, desde o início da ofensiva na Ucrânia em 2022, de sanções ocidentais, em particular financeiras, e o presidente russo pede com frequência a redução da dependência da economia russa do dólar, uma moeda considerada “tóxica” por Moscou.
O estabelecimento de um sistema de pagamentos internacional permitiria competir com o Swift (Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais), do qual a maioria dos bancos russos foi excluída.
Dilma Rousseff também apoiou a ideia de aumentar o comércio em moedas nacionais durante uma reunião que contou com a presença da presidente do Banco Central Russo (BCR), Elvira Nabiulina, e do chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov.
“No momento, os países do Sul Global têm uma grande necessidade de financiamento, mas as condições para obtê-lo são muito complicadas”, reconheceu, segundo suas declarações traduzidas para o russo.
O banco do Brics foi criado como alternativa ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial, duas instituições controladas pelos países ocidentais.
Em Kazan, os líderes do Brics discutem diferentes projetos de mecanismos financeiros alternativos ao dólar no comércio intrabloco: o Brics Pay, equivalente à plataforma internacional de pagamentos Swift, o Brics Bridge, sistema baseado em blockchain que interligaria os respectivos bancos centrais, e a eventual moeda comum dos Brics.
Em entrevista à RFI, Carl Grekou, economista especialista em finanças do Centro de Estudos Prospectivos e de Informações Internacionais (CEPII), em Paris, disse que “se o Brics se alargar para cada vez mais países, é possível esperar que, a longo prazo, o dólar tenha um papel cada vez menos importante nas transações comerciais”.
Atualmente, o grupo dos emergentes já conta com 46% da população mundial e tem um PIB ligeiramente superior ao das potências econômicas ocidentais. Mas o “sistema Brics” ainda tem algumas etapas para desenvolver e se concretizar, inclusive do ponto de vista geopolítico, observa o economista. A Rússia tem interesse em acelerar o processo por ter sido prejudicada pelas sanções ocidentais, após invadir a Ucrânia.
Antes de se reunir a portas fechadas com Vladimir Putin, nesta terça, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, pediu ao anfitrião um rápido retorno à paz na Ucrânia.
“Acreditamos que os conflitos devem ser resolvidos apenas de forma pacífica. Apoiamos totalmente os esforços para restaurar rapidamente a paz e a estabilidade”, declarou Modi perante o presidente russo. O indiano explicou que mantém “contato permanente” com Putin, que saudou “a parceria estratégica” entre os dois países.
Modi busca manter um equilíbrio delicado entre os laços historicamente fortes da Índia com a Rússia, e a vontade de se aproximar do Ocidente para combater a China, sua adversária regional. O líder indiano nunca condenou abertamente o ataque russo à Ucrânia, preferindo defender o diálogo entre os dois países e até oferecer uma mediação diplomática.
A guerra na Ucrânia estará na agenda das discussões em Kazan na quinta-feira, em uma reunião anunciada pelo Kremlin entre Putin e António Guterres, o secretário-geral da ONU. No entanto, a ONU não confirmou este encontro, que seria o primeiro na Rússia entre os dois dirigentes desde abril de 2022, após o início do ataque russo contra o país vizinho.
A cúpula do Brics ocorre num momento em que Moscou volta a conquistar áreas no leste da Ucrânia e forja alianças estreitas com os maiores adversários dos Estados Unidos: China, Irã e Coreia do Norte. ANG/RFI/AFP