
Turquia/Detenção do rival do Presidente gera maiores protestos dos últimos 10 anos no país

(ANG) – As autoridades turcas prenderam 1.133 pessoas desde quarta-feira, quando começaram os protestos contra a detenção do autarca de Istambul, Ekem Imamoglu.
O principal rival político do Presidente Recep Tayyip Erdogan foi formalmente acusado de corrupção, este domingo, e viu confirmada a medida de prisão preventiva. Também este domingo, o seu partido nomeou Imamoglu como candidato às próximas eleições presidenciais, previstas para 2028. Os protestos contra a detenção de Imamoglu são os maiores dos últimos dez anos no país.
Centenas de milhares de pessoas têm saído às ruas em Istambul, nas últimas noites, para protestar contra a detenção e as acusações que a justiça turca decretou contra Ekem Imamoglu – o carismático presidente da Câmara Municipal de Istambul, do CHP (Partido Republicano do Povo, esquerda republicana laica, o maior partido da oposição). Este domingo, Ekem Imamoglu foi formalmente acusado de corrupção e viu confirmada a medida de prisão preventiva.
A detenção de Imamoglu e de mais outros 90 funcionários públicos da autarquia ou autarcas da oposição, na semana passada, foi o culminar de uma intensa vaga de detenções e acusações da justiça turca para com críticos do regime. A generalidade dos observadores independentes sugere que esta vaga não é mais do que uma tentativa de eliminar potenciais rivais e vozes críticas do actual Presidente Recep Tayyip Erdogan antes de se iniciar um novo ciclo eleitoral.
Imamoglu conquistou por duas vezes consecutivas, em 2019 e 2024, a câmara da maior metrópole turca, quebrando assim a hegemonia quase total de Erdogan e do seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, islamita e nacionalista), nas únicas vitórias eleitorais da oposição em mais de um quarto século de poder absoluto do AKP. No mesmo dia em que foi acusado de corrupção, fraude, lavagem de dinheiro e extorsão, por actos alegadamente associados a vários contratos na autarquia de Istambul, Imamoglu foi confirmado, em eleições primárias do seu partido, como o candidato para as presidenciais de 2028, com uma votação massiva (quase um quarto do total do eleitorado turco). É que o voto, inicialmente reservado aos militantes do CHP, foi aberto a todos, de forma simbólica, numa prova de força da oposição.
Imamoglu já tinha sido condenado em 2019 a pena de prisão e à interdição de exercer cargos políticos, por insultos à autoridade, mas o recurso a esse processo ainda decorre. Com as novas acusações, Imamoglu foi agora exonerado do seu cargo e a assembleia municipal de Istambul, controlada pelo seu partido, irá agora selecionar um autarca interino. Uma investigação sobre o alegado apoio de Imamoglu a actividades terroristas (devido ao apoio do partido curdo à sua reeleição) ainda decorre, e teria consequências bem mais graves.
Apesar da proibição das manifestações, grandes multidões têm protestado em frente à Câmara de Istambul todas as noites, desafiando as autoridades, em protestos que degeneraram em alguma violência – são os maiores protestos na Turquia na última década. De acordo com o ministro do Interior, Ali Yerlikaya, foram detidas 1.133 pessoas em todo o país desde quarta-feira.
Isto apesar dos esforços das autoridades para diminuir o seu impacto – proibiram todos os meios de comunicação social nacionais, públicos e privados, de transmitirem imagens dos protestos e têm detido centenas de pessoas devido a publicações nas redes sociais. Ainda esta manhã, vários jornalistas, entre os quais um correspondente da agência France Presse, foram detidos.
As autoridades acusam o maior partido da oposição de fomentar o “terrorismo de rua” e defendem a imparcialidade da justiça turca – algo contestado pela maior parte dos analistas independentes, que sugerem uma crescente erosão do Estado de Direito no país.ANG/Lusa