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Cabo Verde/ Ministro pede que abstenção na ONU não sirva de “arma de arremesso”

Cabo Verde/ Ministro pede que abstenção na ONU não sirva de “arma de arremesso”

(ANG) – O chefe da diplomacia de Cabo Verde, Rui Figueiredo Soares, disse, na quarta-feira, em conferência de imprensa, que a abstenção do país na resolução das Nações Unidas sobre o conflito entre Israel e o Hamas não pode servir de “arma de arremesso” na política interna.

O processo de votação foi fraturante para várias regiões e blocos de países, mesmo para aqueles que dispõem de instrumentos definidores de política externa comum, como a União Europeia, o que devia convidar os atores políticos cabo-verdianos a dar prova de moderação acrescida, análise mais serena, ao invés de se utilizar este voto como arma de arremesso.

Rui Figueiredo Soares reagia, assim, às declarações do Presidente da República, José Maria Neves, que, na terça-feira, disse não ter entendido a abstenção numa matéria em que “o que estava em causa era um cessar-fogo humanitário para abrir corredores de assistência a civis” em Gaza. José Maria Neves foi acompanhado pelo partido que o elegeu, o PAICV, na oposição, que também criticou a opção de política externa do Governo do MpD.

O ministro dos Negócios Estrangeiros apontou que “Cabo Verde tem facilitado as ações humanitárias a favor do povo palestiniano”, nomeadamente “autorizando pedidos de sobrevoo e aterragem de aeronaves com este fim”, mas sublinhou que Cabo Verde se absteve por considerar a resolução “demasiado parcial, sem uma única palavra aos ataques do Hamas de 7 de Outubro”.

A Assembleia-Geral da ONU aprovou na sexta-feira, com 120 votos a favor, uma resolução que apela a uma “trégua humanitária imediata, duradoura e sustentada” em Gaza e à rescisão da ordem de Israel para deslocação da população para o sul do enclave. Votaram contra países como Israel, Estados Unidos, Áustria ou Hungria e, entre os países que se abstiveram, estão, também, a Ucrânia, Reino Unido, Canadá, Alemanha, Iraque e Albânia. Vários países lamentaram que a resolução não referisse o direito de Israel a se defender e não condenasse diretamente as ações do Hamas.

Depois das declarações do chefe da diplomacia, na quarta-feira, o Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, considerou, no Facebook, que o Governo do seu país se tem abeirado da “deslealdade constitucional”, “agindo sozinho” em matérias de política externa.

Constato, com pena, que este Governo tem sido muito tímido, beirando às vezes a deslealdade constitucional, na informação e articulação, agindo sozinho, como se isso fosse conforme a Constituição e mais proveitoso para o país.

Na mensagem publicada na Internet, durante a noite de quarta-feira, José Maria Neves renovou o apelo à concertação entre Governo e Presidência pedindo que “haja saudável cooperação entre os dois órgãos de soberania”. O chefe de Estado escreveu que “a arrogância e o ‘orgulhosamente sós’ nunca foram boa companhia em sociedades democráticas”. ANG/RFI

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