Rússia/Alegado suicídio de ex-ministro dos Transportes choca elite política
(ANG) – O alegado suicídio do ex-ministro dos Transportes russo Roman Starovoit, anunciado pouco depois de ter sido demitido na segunda-feira por presumível corrupção, chocou a elite política do país.
Durante o velório, onde a agência de notícias francesa AFP esteve presente, a mulher de um colega de Starovoit foi a única a lamentar a morte, afirmando ser “uma grande perda e muito inesperada”.
Depois de depositarem grandes ramos de rosas vermelhas no caixão, os antigos colegas de Starovoit, vestidos com fatos escuros, deixaram rapidamente o local em luxuosos carros pretos, num ambiente que, segundo o jornalista, fazia lembrar um funeral no filme de culto “O Padrinho”, de Francis Ford Coppola.
Roman Starovoit foi governador da região russa de Kursk, na fronteira com a Ucrânia, antes de ser promovido a ministro em Moscovo, em maio de 2024, três meses antes de as tropas ucranianas terem tomado o controlo de uma pequena parte do território numa ofensiva surpresa. O ataque foi um revés para o Kremlin.
O sucessor como chefe da região, Alexei Smirnov, foi preso na primavera por desvio de fundos destinados ao reforço das fortificações fronteiriças.
O caso Starovoit faz parte de uma recente repressão contra altos cargos suspeitos de enriquecimento ilegal durante a ofensiva russa na Ucrânia.
Embora Putin prometa regularmente combater a corrupção — tendo sido acusado de enriquecimento ilícito por críticos —, as raras detenções de responsáveis costumavam ser usadas para atingir opositores ou acabar com disputas internas entre os escalões mais baixos do poder na Rússia.
Desde a ofensiva na Ucrânia, lançada em fevereiro de 2022, “algo no sistema começou a funcionar de forma completamente diferente”, sublinhou a politóloga Tatiana Stanovaya, do Carnegie Russia Eurasia Center, proibido na Rússia por ser uma “organização indesejável”.
“Qualquer ação ou omissão que, aos olhos das autoridades, aumente a vulnerabilidade do Estado a ações hostis do inimigo deve ser punida impiedosamente e sem concessões”, afirmou à AFP.
Para o Kremlin (presidência russa), a campanha na Ucrânia é uma “guerra santa” que reescreveu as regras, considerou Nina Khrushcheva, professora na The New School, uma universidade em Nova Iorque, e bisneta do líder soviético Nikita Khrushchev. ANG/Lusa