Marcha/Sociedade civil reclama “libertação imediata” dos 9 manifestantes ainda presos
(ANG) – Uma vigília, inicialmente prevista diante da sede da ONU, para reclamar a libertação das pessoas que continuam detidas desde sábado, após a repressão da marcha contra o regime organizada pela ‘Frente Popular’, decorreu, quarta-feira, na Casa dos Direitos, em Bissau.
Durante essa marcha, mais de 80 pessoas foram presas, das quais cerca de 60 foram soltas no domingo, sendo que nove continuam na cadeia, nomeadamente Armando Lona, líder da ‘Frente Popular’, cujo estado inspira cuidados.
Por iniciativa da sociedade civil, estava prevista para quarta-feira de manhã uma concentração junto da sede da ONU em Bissau, para reclamar a libertação dos nove manifestantes que continuam presos, contudo uma intervenção da polícia inviabilizou a vigília que acabou por decorrer na sede da Liga Guineense dos Direitos Humanos, conforme declarações à RFI do Presidente dessa entidade, Bubacar Turé.
“Cidadãos, livres e de forma pacífica, decidiram protestar em frente da sede das Nações Unidas contra estas ilegalidades, essas detenções arbitrárias que estão a acontecer neste momento na Guiné-Bissau (…) Mas, infelizmente, a polícia ordenou às pessoas para se retirarem desta zona. E esta vigília foi felizmente feita na Casa dos Direitos, que também é a sede da Liga dos Direitos Humanos”, relata Bubacar Turé que ao evocar a situação de Armando Lona, coordenador da plataforma da ‘Frente Popular’, e dos restantes oito detidos reclama a sua “libertação imediata e incondicional”.
Para além de denunciar “detenções ilegais”, Bubacar Turé refere que os presos não têm tido nenhum tipo de contacto com o exterior. “A situação de Armando Lona e dos restantes oito detidos permanece na mesma. Não há qualquer hipótese de visitá-los, nem da parte da família, nem dos advogados e organizações de defesa de Direitos Humanos“ lamenta o activista ao referir que “não há nenhum processo legal formal contra Armando Lona e os colegas que continuam detidos” e que “estão numa situação de sequestro”.
Questionado sobre as violências e torturas denunciadas por alguns dos presos entretanto soltos nestes últimos dias, o Presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos refere “ter tido acesso a imagens chocantes de torturas, ter tido acesso a radiografias das pessoas que foram brutalmente espancadas no centro de detenção da segunda esquadra de Bissau”. Bubacar Turé refere em particular que “Armando Lona, sendo o líder da Frente Popular, não escapou à fúria dos agentes de polícia e foi igualmente brutalmente espancado. Neste momento necessita de cuidados médicos, tal como os outros colegas”.
Estes casos de violências que têm sido denunciados desde o começo da semana não têm deixado de ser condenados por vários partidos políticos, nomeadamente pelo PAIGC, pelo PRS e pelo MADEM-G15. Mas até agora, o poder não se expressou e, apesar dos seus esforços, a RFI também não tem conseguido recolher declarações de nenhum membro do executivo sobre o sucedido. Um silêncio que “só revela a insensibilidade das actuais autoridades nacionais em relação a questões de Direitos Humanos, em relação aos princípios fundamentais da democracia e ao Estado de Direito” para Bubacar Turé.
Ao recordar os motivos pelos quais tinham sido organizadas marchas no sábado em Bissau e noutros pontos do país, assim como em Lisboa e em Paris, o activista denuncia um “contexto em que todas as instituições democráticas foram amordaçadas, excepto o Presidente da República (…), um contexto de extrema pobreza, de fome, de falta de água potável e de disfuncionamento do sistema de saúde e da energia eléctrica”, sendo que na sua óptica “as prioridades do governo e das autoridades nacionais deviam ser resolver esses problemas e não enveredar por vias de ataque”.
Neste sentido, Bubacar Turé apela para que “as autoridades conformem as suas condutas, as suas actuações com os ditames da lei, porque a lei deve ser o critério limite, o fundamento de actuação de todas as autoridades nacionais, incluindo as forças de segurança”. O activista remata dizendo que “as forças de segurança não estão obrigadas a cumprir ordens ilegais” porque “se cumprirem ordens ilegais, cedo ou tarde, serão responsabilizadas.” ANG/RFI